O corpo suplicado e suplicante em O Escuro que te ilumina (2018), de José Riço Direitinho
Résumé
« Dans le contexte d’une littérature portugaise timide et bien sage », pour utiliser les mots du narrateur-auteur, ce récit-journal de José Riço Direitinho fait figure d’exception de par son caractère érotico-pornographique. À la fois réaliste et halluciné, brutal et poétique, O escuro que te ilumina sonde le silence des abîmes intérieurs d’où émergent, au milieu de certaines nuits singulières, « des fantômes qui se déshabillent en nous: qui nous ravissent le corps: qui nous ramènent aux autres et ainsi, d’une manière à la fois égoïste et altruiste : nous renvoient à nous-mêmes ». Entre autres questions, nous chercherons à démontrer la façon dont l’expérience du sexe et de la passion sont ici clairement tributaires des conceptions de Georges Bataille sur l’érotisme (des corps et des cœurs). Nous verrons comment dans ses réflexions sur ses pratiques sexuelles (qui défient et bouleversent radicalement l’ordre moral) le narrateur s’approprie le référent chrétien afin de lui opposer une autre vision, païenne, du sacré. En outre, nous soulignerons aussi la façon dont l’œuvre subvertit l’imaginaire pornographique traditionnel. Enfin et d’une manière plus globale, nous analyserons les liens entre transgression, désir et connaissance et le rôle joué par le corps (personnel, des autres, de l’être aimé et du texte) dans l’épiphanie du sujet lui-même. En effet, c’est grâce à ces corps que le moi se sent exister et peut (en se perdant) espérer se sauver, tout en sachant parfaitement qu’on ne peut plus croire en rien.
« Na tímida e bem-comportadinha literatura portuguesa », para utilizar as palavras do próprio narrador-autor, a presente narrativa-diário de José Riço Direitinho faz figura de exceção pelo seu caráter erótico-pornográfico. Simultaneamente realista e alucinada, brutal e poética, O escuro que te ilumina sonda o silêncio dos abismos interiores de onde emergem, em noites singulares, « fantasmas que se despem em nós: que nos tomam o corpo: que nos entregam aos outros e dessa forma: ao mesmo tempo egoísta e altruísta: nos devolvem a nós próprios ». Entre outros aspetos, procuraremos demonstrar a forma como a vivência do sexo e da paixão parece aqui claramente tributária das conceções de Georges Bataille acerca do erotismo (dos corpos e dos corações). Observaremos, assim, o modo como no relato e nas reflexões acerca das suas práticas sexuais (que desafiam e abalam radicalmente a ordem moral) o narrador se apropria do referencial cristão para lhe contrapor uma outra visão, pagã, do sagrado. Além disso, salientaremos também a maneira como a obra subverte o próprio imaginário pornográfico tradicional. Enfim e de um modo mais global, analisaremos as relações entre transgressão, desejo e conhecimento e o papel que desempenha o corpo (pessoal, dos outros, da amada e do texto) na epifania do próprio eu. Com efeito, é graças a esses corpos que o eu se sente existir e pode (perdendo-se) esperar salvar-se, e isto apesar de saber que já não há nada em que acreditar.